Atigos

Por Ricardo Costa

A Reforma Protestante foi um movimento usado por Deus para trazer a igreja de volta para os trilhos em relação a muitas das práticas que a mesma assimilou e que não tinham qualquer fundamento bíblico.

Muitos são os aspectos concernentes as várias frentes de ações tomadas pelos reformadores e neste artigo irei me deter em um aspecto pastoral da igreja.

Conforme apregoado primeiramente por Lutero e depois fortalecido pelos demais reformadores, o sacerdócio da igreja não é limitado a algumas pessoas especiais, mas é um chamado de Deus para todos os santos.

No entanto, esse aspecto defendido pelos reformadores não ganhou a consistência necessária para muitos cristãos da igreja ocidental. Ainda temos a perspectiva de, se não no conceito, na prática, fazer distinção entre o sacerdócio dos “sacerdotes” e o sacerdócio dos “crentes”.

De fato, mesmo os reformadores, ainda que apregoassem esse adágio, na prática não conseguiram se distanciar do sistema sacerdotal existente na Igreja desde o Quarto Século depois de Cristo.

Os reformadores não conseguiram romper com o clericalismo e nossas igrejas, em sua grande maioria, ainda carrega esta mesma perspectiva, sendo mantida tanto por parte de líderes como do povo.

Em minha opinião isso é tão forte no Brasil, talvez até mesmo América Latina, por conta da influencia do imperialismo português, da força da tradição Católica Romana e do coronelismo que ainda se manifesta em tantas dimensões diferentes da sociedade.

É nítido que o clericalismo é uma força opositora a percepção do ministério pastoral da igreja que deveria existir com base no sacerdócio universal de todos os santos. Por parte dos líderes o clericalismo é mantido por conta da fome pelo poder, o desejo de controle, e a manifestação egocêntrica de tantos que estão ocupando estes lugares. Por parte do povo, o mesmo é mantido, por conveniência (se tenho alguém para me representar não preciso assumir responsabilidade diante de Deus), por tradição (este é o modelo católico romano e das religiões afro em nosso país, e é deste meio que vem a maioria dos nossos membros evangélicos) e pelo sentimento de despreparo que os cristãos tem, pois seus líderes não fazem o papel de equipa-los para o ministério.

Mas, o fato é que a Palavra de Deus nos apresenta fundamentos suficientes para que de fato concordemos com os reformadores de que o sacerdócio é de todos os santos.

Quero olhar para dois textos visando a conclusão deste artigo.

O primeiro encontra-se em 1 Pedro 2.9, que expressa claramente a identidade do povo de Deus como uma nação de reis-sacerdotes que estão em missão no mundo para expressarem as virtudes de Deus que está no meio deles.

Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.

A igreja é o povo de Deus em missão no mundo e sua missão é exercida por todos, toda o povo é constituído por sacerdotes e nossa missão é a de proclamarmos o evangelho do Reino de Deus por onde quer que formos.

O outro texto que quero considerar encontra-se em 1 Tessalonicenses 5.12-15, que diz:

Agora lhes pedimos, irmãos, que tenham consideração para com os que se esforçam no trabalho entre vocês, que os lideram no Senhor e os aconselham. Tenham-nos na mais alta estima, com amor, por causa do trabalho deles. Vivam em paz uns com os outros. Exortamos vocês, irmãos, a que advirtam os ociosos, confortem os desanimados, auxiliem os fracos, sejam pacientes para com todos. Tenham cuidado para que ninguém retribua o mal com o mal, mas sejam sempre bondosos uns para com os outros e para com todos.

Penso que este texto nos auxilia bastante demonstrando como funciona a questão do ministério pastoral exercido pelos líderes, os pastores e presbíteros, e o ministério pastoral exercido pela igreja.

Observe que nos versos 12 e 13 nós temos o apóstolo Paulo fazendo referência ao ministério sacerdotal dos líderes que inclui liderar e aconselhar. E nos versos 14 e 15 temos o que penso que podemos chamar de ministério pastoral da igreja, que inclui: advertir os ociosos, confortar os desanimados, auxiliar os fracos, ser paciente para com todos, cuidar para que ninguém retribua o mal com o mal, sempre escolhendo a bondade.

Todas essas ações não são esperadas pelo apóstolo Paulo por parte dos líderes por serem pastores, mas por parte da igreja, por todos, líderes e o restante do povo, serem sacerdotes.

Concluindo, portanto, entendo que a proposta da Reforma concernente ao sacerdócio de todos os crentes ainda é uma perspectiva que precisa continuamente ser buscada pela igreja brasileira, quem sabe, até mesmo possamos dizer pela igreja Ocidental.

Que os líderes se vejam como povo e que o povo se veja como sacerdote para que assim cumpramos os propósitos de Deus para nós como sua Igreja.

Fonte: Aliança Evangélica